Está dificil o parto da minha nova obra erudita "Vozes do Tempo e de Mar". Trata-se de um ciclo de canções para barítono, flauta, clarinete, saxofone alto, violoncelo, piano e sons electroacústicos, tendo como ponto de partida 5 poemas da Sophia de Mello Breyner Anderssen. Cada um dos poemas explorará uma determindada técnica de composição, já abordadas em obras anteriores, que me irá ajudar a reflectir na minha actual estética da composição erudita, que actualmente incide na fusão de todas as linguagens e técnicas que explorei até aos dias de hoje. Essas técnicas e linguagens são a heterofonia, a transformação tímbrica, a "sonoridade" do modalismo aplicada ao atonalismo e o diálogo entre os instrumentos acústicos e os sons electroacústicos.
Após este introitus, passo a citar os po0emas que estão na base e na inspiração da obra que de momento estou a compor.
1 – Horizonte Vazio
Horizonte vazio em que nada resta
Dessa fabulosa festa
Que um dia te iluminou.
As tuas linhas outrora foram fundas e vastas,
Mas hoje estão vazias e gastas
E foi o meu desejo que as gastou.
Era do pinhal verde que descia
A noite bailando em silenciosos passos,
E naquele pedaço de mar ao longe ardia
O chamamento infinito dos espaços.
Nos areais cantava a claridade,
E cada pinheiro continha
No irreprimível subir da sua linha
A explicação de toda a heroicidade.
Horizonte vazio, esqueleto do meu sonho,
Arvore morta sem fruto, em teu redor deponho
A solidão, o caos e o luto.
In Dia do Mar
Sophia de Mello Breyner Anderssen
2 – Estranha Noite
Estranha noite velada,
Sem estrelas e sem lua.
Em cuja bruma recua
Fantasma de si mesma cada imagem
Jaz em ruínas a paisagem,
A dissolução habita cada linha.
Enorme, lenta e vaga
A noite ferozmente apaga
Tudo quanto eu era e quanto eu tinha
E mais silenciosa do que um lago,
Sobre a agonia desse mundo vago,
A morte dança
E em seu redor tudo recua
Sem força e sem esperança.
Tudo o que era certo se dissolve;
O mar e a praia tudo se resolve
Na mesma solidão eterna e nua.
In Dia do Mar
Sophia de Mello Breyner Anderssen
3 – A liberdade
A liberdade que dos deuses eu esperava
Quebrou-se. As rosas que eu colhia,
Transparentes no tempo luminoso,
Morreram com o tempo que as abria.
In Tempo Dividido
Sophia de Mello Breyner Anderssen
4 – Este é o Tempo
Este é o tempo
Este é o tempo
Da selva mais obscura.
Até o ar azul se tornou grades
E a luz do sol se tornou impura
Esta é a noite
Densa de chacais
Pesada de amargura
Este é o tempo em que os homens renunciam.
In Mar Novo
Sophia de Mello Breyner Anderssen
Horizonte vazio em que nada resta
Dessa fabulosa festa
Que um dia te iluminou.
As tuas linhas outrora foram fundas e vastas,
Mas hoje estão vazias e gastas
E foi o meu desejo que as gastou.
Era do pinhal verde que descia
A noite bailando em silenciosos passos,
E naquele pedaço de mar ao longe ardia
O chamamento infinito dos espaços.
Nos areais cantava a claridade,
E cada pinheiro continha
No irreprimível subir da sua linha
A explicação de toda a heroicidade.
Horizonte vazio, esqueleto do meu sonho,
Arvore morta sem fruto, em teu redor deponho
A solidão, o caos e o luto.
In Dia do Mar
Sophia de Mello Breyner Anderssen
2 – Estranha Noite
Estranha noite velada,
Sem estrelas e sem lua.
Em cuja bruma recua
Fantasma de si mesma cada imagem
Jaz em ruínas a paisagem,
A dissolução habita cada linha.
Enorme, lenta e vaga
A noite ferozmente apaga
Tudo quanto eu era e quanto eu tinha
E mais silenciosa do que um lago,
Sobre a agonia desse mundo vago,
A morte dança
E em seu redor tudo recua
Sem força e sem esperança.
Tudo o que era certo se dissolve;
O mar e a praia tudo se resolve
Na mesma solidão eterna e nua.
In Dia do Mar
Sophia de Mello Breyner Anderssen
3 – A liberdade
A liberdade que dos deuses eu esperava
Quebrou-se. As rosas que eu colhia,
Transparentes no tempo luminoso,
Morreram com o tempo que as abria.
In Tempo Dividido
Sophia de Mello Breyner Anderssen
4 – Este é o Tempo
Este é o tempo
Este é o tempo
Da selva mais obscura.
Até o ar azul se tornou grades
E a luz do sol se tornou impura
Esta é a noite
Densa de chacais
Pesada de amargura
Este é o tempo em que os homens renunciam.
In Mar Novo
Sophia de Mello Breyner Anderssen
5 – No tempo dividido
E agora ò Deuses que vos direi de mim?
Tardes inertes morrem no jardim.
Esqueci-me de vós e sem memória
Caminho nos caminhos onde o tempo
Como um monstro a si próprio devora.
In Tempo Dividido
Sophia de Mello Breyner Anderssen
E agora ò Deuses que vos direi de mim?
Tardes inertes morrem no jardim.
Esqueci-me de vós e sem memória
Caminho nos caminhos onde o tempo
Como um monstro a si próprio devora.
In Tempo Dividido
Sophia de Mello Breyner Anderssen
Num próximo post, irei descrever mais promenores sobre esta obra.